terça-feira, 4 de dezembro de 2012

O quente pode ser frio

O dia estava quente, daqueles em que se pode ver a fumacinha quando se olha com apuro para o asfalto. O sol parecia debochar dos humanos que exibiam gotas de suor e sofrimento. Nenhuma folha de árvore balançava. Não havia pássaros voando. Na rua, somente os infelizes que não podiam escolher o ar condicionado da casa, trabalho ou shopping. E que caminhavam a passos largos, se abanando, secando a testa suada, procurando encontrar refúgio e frescor.

Ela, alheia a todo essa quentura, estava sentada no banco de uma praça. Sozinha. Sob o sol escaldante, imersa no calor. Tinha o olhar fixo, a testa enrugada, um sorriso sem graça nos lábios. Contemplava a vida que passava, sem sentir o corpo ou a alma aquecendo. Sua alma, aliás, estava fria e refrescava também a pele que, em oposição a de todos os demais, não suava. 

Se observassem bem, veriam que seus lábios eram arroxeados. Mas ninguém parecia notar que ela estava ali, ocupados demais em encontrar lugares frescos. Nem ela mesma  se reparava. Só tinha a certeza de que sua existência era fria, embora refrescante naquele dia de verão.

2 comentários:

  1. Quente vivo, frio morto. Ou será o contrário?
    Quantas pessoas estão quentes e são os mais frios em sentimentos, e quantas estão sentindo muito frio em suas cutis e têem o coração mais lindo e fervoroso em seus sentimentos?
    Pensemos.

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  2. Pensemos mesmo, Oswaldo... Que bom receber seu comentário! Apareça sempre. Grande abraço!

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