Prece
O dia passava sombriamente. Ele olhava
o relógio, inquieto diante do ponteiro que parecia expor suas fraquezas e
limitações. A sala, como qualquer sala privada de espera num grande hospital,
era silenciosa, exceto pela marcação dos segundos naquele maldito relógio. Aguardava
notícias da operação de sua namorada, a mulher que havia escolhido para ser sua
pra sempre, mas que acabara de sofrer um acidente de carro, enquanto se falavam
por telefone. Estava grávida, no quinto mês. Ele, tenso, aflito e assustado e
com medo. Uma hora e meia e nenhuma informação. Sozinho. Com medo. Mal.
Num instante, ela chegou. Era uma
menina branca, de aproximadamente oito anos, vestidinho xadrez, rodado, duas
tranças pendendo nos ombros, acabadas com exímios laços cor de rosa. Sentou-se
ao seu lado. Ele estranhou, pois a sala era privada.
- Você se perdeu de sua mamãe,
querida?
- Não. Vim falar com você.
- Como? Ele perguntou enquanto
esboçava, desconcertado, um sorriso sem graça.
Ela o olhou ternamente e sorriu. Juntou
as grossas mãos do homem, como na brincadeira de passar anel, e as soprou. Levantou-se
e saiu.
Ele não conseguia desgrudar seus
olhos da menina, tampouco as mãos, postas como em prece. Como que aproveitando
a posição das mãos, cerrou os olhos e rezou.
Na sala de operação, foi ouvido um
suspiro profundo, mesclado a um som agudo e uniforme.
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Lindíssimo, Simone. Estava precisando de umas palavras, assim, doces, para completar essa noite. Muito obrigada por elas! E escreva, escreva, escreva! Porque você tem leitores.
ResponderExcluirObrigada pelo carinho, Bella! Estava sentindo falta de escrever... Beijos.
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