O encontro
E o avião, pau-sa-da-men-te,
pousava. Tudo parecia lento demais, cenas se construindo q-u-a-d-r-o-a-q-u-a-d-r-o,
as alvas nuvens cedendo espaço a casinhas minúsculas que, pou-co-a-pou-co se
avolumam. A vida ao redor em slow motion, exceto pelo seu afervorado coração.
Aquela viagem, tinha certeza, durara muito mais que o previsto, cada hora, cada
minuto, cada segundo, tudo lento demais e ele aflito, aflito, a saudade a lhe
estrangular o peito, desejo de estar em casa, no seu lar, pisar seu chão, sentir
o abraço gostoso da mãe. A mãe...
No portão de
desembarque, a mãe segurava junto ao peito um crucifixo. Rezava para que o voo
pousasse logo e de lá saísse, finalmente, após tanto tempo de separação e
solitude, seu filho querido. Sua partida ela mesma estimulara, claro, excelente possibilidade de estudos, oportunidade única, imperdível e que ela jamais tivera. Chance
de ser alguém, de orgulhar a memória do pai, de gozar a vida com qualidade e
ser respeitado com um bom lugar ao sol. Mas
a distância foi eternizada pelas dificuldades financeiras e somente agora,
quatro anos depois, se veriam, enfim. A cada minuto, olhava ansiosa e aflita para
o painel de desembarque. Voo 3734, sim, previsto, confirmado, aeronave no pátio,
desembarque iniciado e sai uma pessoa e sai outra, agora um casal, duas
senhoras e nada do seu filho.
O filho
aguarda em tortura a visão de sua bagagem naquela esteira sem fim. Até que suas
malas despontam, rubras como sempre, fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim
amarradas nas alças. Recolhe-as. Sabe que é o último momento do ritual que há
anos aguarda.
A mãe avista o filho. O filho
avista a mãe. Entre um e outro olhar, a porta automática se fecha mais uma vez.
Acelera os passos, a porta se abre, obediente e respeitosa, e ele, finalmente, para
à frente da mãe amada. Que abre os braços e com eles, finalmente, envolve o amado
filho, amplexo selado pela pureza da cruz. Lágrimas e batidas de coração e recordações de tatos, cheiros, gosto da
lágrima do outro, todo prazer do mundo em matar aquela saudade maior que o
mundo e que por tanto tempo sufocou os dois. E se abraçam, e se deixam de
abraçar, e se olham nos olhos - e se abraçam outra vez e se alisam os rostos e se
dizem palavras de amor e amor e amor.
Agora, de
fato, o tempo vai en-cur-tan-do até parecer p-a-r-a-r, enquanto aqueles dois corações
vão se a-cal-man-do pela segurança que a presença um do outro transmite. A vida
ao redor em fast forward. Exceto por aqueles corações em paz.
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