terça-feira, 18 de setembro de 2012

Prioridade
A mulher acordou atrasada, como todos os dias. Repetia-se também a desculpa: foi dormir tarde na noite anterior e perdera a hora. Preparou o café como quem tem fome: às pressas, irrefletidamente. Precisava se arrumar, acordar a filha, arrumar a filha, despachá-la para a escola. A van não esperaria; como a vida, era implacável.
Aprontaram-se, enfim. A criança apenas olhava para a mãe, talvez se sentindo culpada pelo mau humor alheio que gerava silêncios, resmungos, ações bruscas, indiferença. Abre a porta, para ajudar a mãe. Mas derruba a própria mochila, que se põe no caminho da mãe, derrubando-a. O olhar materno fulmina a menina. Antes que a adulta da relação esbravejasse algum ultraje, porém, a pequena lhe estende uma das mãos, enquanto, com a outra, afaga-lhe os cabelos.
- Eu ajudo você, tá, mamãe?
Pausa na vida. Filme que passa. Roda que envolve. Silêncio. Comoção. Arrependimento. A mulher apenas abraçou-se à menina, chorando, sentindo, sofrendo, escolhendo.
Lembrara-se de repente do que era importante.

6 comentários:

  1. Marcela Cristina Evaristo18 de setembro de 2012 às 16:46

    Que bonito, minha amiga!
    Só consegui ver agora, mas nunca é tarde para nos depararmos com coisas boas...
    Beijo enorme e parabéns pelo blog!

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  2. Oi, Marcela! Bom receber sua visita! Bom saber que você gostou! Volte sempre, sim? Beijo grande!

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  3. Lindo, Simone. Sensível demais e com uma narrativa que envolve. Muito imagético. Consegui imaginar e, mais do que tudo, sentir.

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  4. Que comentário "maduro", Bella! Parece ter sido feito por uma colega de profissão... Torço muito por você. Obrigada por comentar. Beijo.

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  5. Que bonito, me emocionou! te admiro ainda mais Professora.

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  6. Obrigada pelo carinho, querida! Beijo grande.

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