sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mãos dadas
E os dois sentaram-se lado a lado. O olhar do velho pai vagava longe, embora parecesse fixo num ponto a poucos palmos do nariz. O jovem filho tinha a cabeça baixa, os ombros contraídos, os olhos perdidos no próprio colo. Durante muito tempo foi assim: um ignorava a presença do outro olhando para o distante; o outro ignorava a presença do um voltando-se para si mesmo.
Mas agora, ali, naquele final de tarde, havia diante deles um caixão posto. Mulher de um e mãe de outro.
Num instante, ambos olharam para a frente. Viram um corpo e – como se pelo corpo também tivessem sido vistos - foram tocados, um pelo corpo do outro. Aproximaram-se sem perceber, como que imantados pelo corpo da mãe que agora na morte, como o fizera ao longo da vida, tentava unir aqueles dois.
Um toque. E dois corações disparando, agitados. Ambos quiseram muito, pelos mesmos eternos segundos, se olhar nos olhos e dizer tanta coisa guardada, segredada à mulher ou à mãe, escondida sob medos, anseios, rejeições. Mas não ousaram erguer as frontes. Em lugar disso, porém, pessoas que choravam a tristeza do momento, puderam ver duas mãos - timidamente, sensivelmente, levemente - se tocando, se enlaçando, dando-se.

2 comentários: