Dispersão
Era manhã de domingo. A mulher não sabia o que fazer. Todas as suas convicções, desejos, intenções bagunçavam-se n'alma, desordenando mente, espírito, tez. Fechava os olhos, apertava-os, como se isso a fizesse voltar no tempo, mudar o espaço, transformar seu estado. Sofria. Chorava. Tremia. Suava.
- Onde deixei parte de mim? O que me fez ser apenas... assim? Serei... mas já não me sou...
Desde criança ouvia que se a gente desejasse muito uma coisa, ela acontecia. E desejava, desejava. Nada vinha, nada vinha. Olhava para si vendo a vida que lhe passava feito um astro doido a sonhar... E lembrou-se de que morava no último andar. Foi à janela e olhou o mundo lá fora. Chamou sua atenção a beleza de uma grande ave dourada que batia e fechava suas asas no céu, um voo seguro como sua vida não fora. Ergueu a grade, sorveu o vento. Sentiu-se livre por um momento, invadiu sua mente de um bom pensamento. Paz... Pra sempre... Sempre é o tempo que cai sobre si como ontem.
Chorou-se sobre si mesma, como quem chora ao perder um amante.
Pegou sua bolsa sobre o sofá, viu nela um espelho. Mas não se achou na projeção que via. Da bolsa tirou caneta e papel: "Perdi-me dentro de mim porque eu era labirinto...". E ao escrever chorava, porque sentia saudades dos sonhos que não sonhou, da vida que não viveu, da canção que não cantou. Olhou para suas mãos, tristes, longas e lindas. O que poderia ter criado? A quem teria abraçado?
Fora apenas alguém que passou. Voltou à janela. Pediu perdão pela vida, pela morte, por seu ser. Lançou-se.
Hoje, quando se sente, é com saudade de si.
Deixando o registro simples da minha estada por aqui. Fiquei muito feliz por você fazer um blog, muitas saudades e você viu , beijos!
ResponderExcluirParabéns pela sua obra, amiga! Deixo aqui meu rastro de carinho e amizade acompanhado do desejo de muito sucesso para você. Beijos
ResponderExcluirMuito bom! Parabéns.
ResponderExcluirObrigada pela presença, amigos! Obrigada também por comentar. Beijo grande!
ResponderExcluir