terça-feira, 8 de outubro de 2013

Tempestade de amor

O som ensurdecedor de um trovão e, de repente, a ausência de luz em toda a casa. A menina apertou Laurinha contra o peito; ambas tremiam como varas verdes.
- Mamãe logo voltará, disse a garota para a boneca preferida, acariciando-lhe os cabelos.
Mas não tinha certeza se o que dizia era verdade. O que sabia ser verdade era que a chuva forte caía lá fora, plena de luzes e sons; era que a luz faltara há segundos, deixando a menina e a boneca num breu de dar dó; era que a mãe poderia se atrasar, justo hoje, pois dependia de transporte público, que não caminhava bem em dias de tempestade. A menina tinha apenas dez anos, mas sabia de muita coisa. E também sentia muita coisa. Naquele momento, por exemplo, sentia medo e uma dor no peito que só aumentava a cada raio que riscava o céu. Queria tanto o colo da mãe!
Então ouviu o telefone tocar. Junto com o toque, um arrepio no peito, um dissipar da tristeza, um brotar de sorriso em seu rosto angelical.
- É a mamãe! É a mamãe!
E correu para a sala, louca para pegar o telefone. Magicamente, a escuridão da sala se desfez com a luz de um relâmpago; iluminado o aparelho, a menina, ofegante, segurou o gancho:
- Mamãe!!!
Do outro lado, a mãe chamou-a de “meu amor” e cantarolou uma antiga canção de ninar. O coração da menina foi acalmando, como água do mar depois da tempestade. Ainda havia lágrimas em seu rosto, mas daquelas que significam “eu sabia que alguém olhava por mim”. Ela apertou mais uma vez Laurinha contra o peito e fez um coro com a voz da mãe. Cada nota cantada, cada murmurar melódico era carregado de tanto amor e de tanto carinho, que a pequena deixou de temer.
A menina, agora, sabia de mais uma coisa: amor de mãe também faz tempestade passar.

8 comentários:

  1. Muito bom, Simone. Ler esse texto me fez lembrar da minha própria mãe e das horas de angustia que eu sentia ao espera-la chegar do trabalho. Me tocou profundamente !

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  2. Obrigada por comentar, Eduardo. Bom saber que o texto tocou você! Beijo!!

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  3. lindo texto, professora Simone...descreveu sabiamente a angústia de uma criança em meio a uma tempestade e sua felicidade ao ouvir a voz da mãe...amei! bjsss

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    1. Sarita, obrigada por comentar! Bom saber que você gostou! Beijo!

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  4. Que linda! Ai, Simone, que texto mais gostoso de ler, quase ouvi mamãe cantando algo pra mim rsrs. Emocionante!

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  5. Linda... Obrigada por comentar e por se emocionar. Essa é a ideia... Beijo!

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  6. Olá, Arilson! É sempre bom ver você por aqui! Bj!

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