terça-feira, 16 de outubro de 2012

Todos os dias
Uma homenagem a todos nós, professores, que corremos, nos cansamos, às vezes pensamos que vamos enlouquecer, sofremos vendo o tempo passar mais do que deveria. Mas, quando perguntados se queremos outra vida, não titubeamos em responder que não. Porque é exatamente assim que desejamos que tudo seja. Parabéns!
Todos os dias ela acordava às cinco e se deitava apenas após às onze da noite. Passava o dia todo fora de casa, todos os dias. Ainda não conseguira comprar um carro, então corria de um lugar para o outro, ora utilizando ônibus, ora utilizando metrô. Corria o dia todo, todos os dias. Cada vez que chegava a um lugar, alegrava-se e alegrava. Deixava sonhos por onde passava, criava amigos por onde andava. Aprendera, há tempos, que com todos se pode aprender, especialmente se a alma não é pequena. Uma bolsa gigantesca e um sorriso imenso eram suas marcas registradas. Ah, e daquela bolsa gigantesca, sempre saíam mais sorrisos, cócegas, alegria. E também sabedoria, informações, dicas e surpresinhas. Da bolsa imensa saía poesia, continhas, geografia; tinha um pouco de gramática, matemática, biologia. Sua bolsa mais parecia uma cartola e ela, a maga-fada. Sorria, sempre sorria. Fazia isso o dia todo, todos os dias.
Quem a visse assim, todos os dias, numa correria louca, num frisson desesperado, poderia até pensar “Puxa, que moça infeliz!”. Mas se se aproximasse um pouco e deixasse de apenas a observar, veria um certo sorriso constante, uns braços sempre abertos, um olhar vívido e envolvente, uma satisfação sincera e grata por tudo aquilo tão agitado e que transpirava tanta serenidade. Quem se aproximasse ia ter a certeza de que aquilo só podia representar a felicidade intensa daquela moça, que de infeliz não tinha nada. Na verdade, ela sentia-se realizada e completa, todos os dias, a despeito da correria. A correria e a agitação diária, aliás, a alimentavam e davam força para ir além. E, ao fim de cada dia, podia agradecer a Deus por tudo que era e havia vivido, mais uma vez, como todos os dias. Era exatamente assim que ela gostaria que fosse.

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