sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Passadeira
Passava roupas por ofício. Não por vontade ou opção. Necessidade aliada à habilidade. Lucro suado pra garantir felicidade. O mínimo, verdade. Cada dia novas roupas. Pequenos amontoados que não eram seus. Mas que - com fé, suor e muita labuta - lhe apontavam caminhos para algo que dela, quem sabe, seria. Gostava do que fazia e envolvia-se com os feitos. Sorria enquanto o ferro aquecia.
E cantava para passar o tempo. O veludo de sua voz fazia as vezes das borrifadas de água: alinhava, amaciava, afofava cada peça. As pilhas de roupas amarfanhadas cedendo lugar ao dobrado, liso, esticado. Depois, cada solfejo parecia vivificar as roupas, conduzindo-as aos cabides. Sincronia na sua mais perfeita essência. Sorria enquanto a tudo assistia.
Havia doçura e magia naquela passadeira.

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