quinta-feira, 5 de setembro de 2013

É pra ver se você volta
Ao som de Mentiras, de Adriana Calcanhoto

Mentiras. Enredara-se aquela relação em mentiras tantas que chegara ao fim. Ele apenas se foi. Não era de seu feitio discutir. Tampouco insistir. Foi-se. Ela, porém, protestou, como era – agora sim - de seu feitio.
Disse que ia atormentá-lo se não voltasse.
Que ligaria para ele várias vezes por vários dias.
Que ele nunca mais teria paz.
Que contaria para suas amigas sobre o canalha que ele era.
Que estouraria o cartão adicional, além de sacar cada centavo da conta conjunta que haviam aberto quando decidiram juntar dinheiro para se casar.
Que faria uma carta anônima para a mãe dele, beata idolatrada, com obscenidades que ele jamais ousaria dizer. Seria um escândalo!
Que encheria a cara e passaria noites ao relento. E que quando alguém se aproximasse para perguntar se queria ajuda, ela diria que só estava assim por causa do amor que se foi. E daria ao bom samaritano o telefone dele, o canalha que a abandonara.
Que tentaria suicídio e deixaria, ao final do bilhete, o nome dele, a fim de que fosse o culpado por sua morte.
Tudo pra ver se ele voltava.
Mas ele não voltou. Havia mentiras demais.
Ela, percebendo a derrota, decidiu dizer apenas a verdade. Quando viu que não conseguia, disse a si mesma que daria um passeio pela Ponte Rio-Niterói. E lançou-se ao mar.

6 comentários:

  1. Você está cada vez melhor...

    ResponderExcluir
  2. Respostas
    1. Às vezes é preciso... Um grande abraço, Arilson! Obrigada por ler e comentar! Beijo!

      Excluir
  3. Muito bom, Simone!! Ainda mais, porque gosto muito da música. Mas também penso que além das "mentiras", eles não falavam a mesma língua e não havia mais sentido para continuar. Beijos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade, Michele. Obrigada por ler e comentar. Beijo grande!

      Excluir