domingo, 29 de junho de 2014

Braços abertos

     O trenzinho chegou ao seu destino, e os passageiros começaram a descer, câmeras fotográficas e sorrisos expostos em profusão. Sotaques distintos e gargalhadas gostosas invadiam o ambiente e se amplificavam mais que a Garota de Ipanema, que saudava a todos, dando-lhes as boas-vindas. O sol a pino iluminava rostos, aquecia mentes e, de quebra, ainda benzia a imensidão de visitantes.
     A mulher também desceu, embora não estivesse à procura de um ponto turístico ou momentos de distração. Tampouco desejava tirar a famosa fotografia aos pés daquele que, diziam, abençoava a cidade. Não a inspirara a viagem agradável, com a paisagem cheia de atrativos naturais; não a inspirara estar num lugar famoso no Brasil e no mundo. Precisava apenas vê-Lo. Precisava encontrar a paz. Casa arrumada, lençóis limpos, mesa pronta, sabe? Um pouco da típica e simples harmonia que há muito não reconhecia.
     Em seus desejos mais secretos, cada degrau que subia representava uma tristeza que deixava para trás. Apesar do tormento interior, ela subia cheia de fé.
     Até que, em meio a raios de sol e uma luminosidade que, de tão perfeita, não podia ser apenas natural, a mulher O viu. Aprumou-se como pode, enquanto se sentia invadida por uma sensação doce, de leveza, que, se ela bem se lembrava, poderia ser chamada de paz. Grandioso, imponente, magnífico: ei-lo à sua frente, os braços abertos sobre a Guanabara. Sentiu-se acolhida, envolvida pelos imensos braços. Havia uma multidão, mas a mulher se sentia única e tinha a convicção de que o olhar Dele se dirigia apenas a ela, pequena e frágil ela. Há tempos não se sentia tão acolhida. Há tempos não sentia o gosto de uma harmoniosa paz. Prostrou-se. Em meio a câmeras violentas, em meio a turistas buscando o melhor ângulo, em meio a crianças correndo e gritando, prostrou-se. Não importava quem estava a seu lado. Ela estava ali, Ele estava ali. Sabia que tudo, enfim, ficaria bem.

2 comentários:

  1. Como é bom quando encontramos algo que conforta e dá paz! E como é bom ler você!

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  2. Freitinhas, como é bom ler seu comentário! Obrigada, viu? Volte sempre. Beijo!

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