Desenho da infância
As duas
crianças brincavam de boneca, contentes porque estavam na companhia uma da
outra. Divertiam-se a valer. Não havia preconceitos ou rumor de maldade. Não havia
julgamentos ou classificações. Nenhuma segmentação ou estereótipo reinava
naquela brincadeira. Somente a infância se desenhando com lápis coloridos e
pedacinhos de giz de cera, num lindo quadro de pureza e sinceridade. Eram
felizes: ela, ele e as Barbies.
Mas chegou a
mãe dele, juntamente com a mãe dela. A primeira enfureceu-se:
- Garoto,
ficou louco? Menino não brinca de boneca!
E tirou com
aspereza da mão do filho a Barbie tão bonita, enquanto o levantava do tapete
emborrachado todo enfeitado com as letras do alfabeto. Separou-o bruscamente da
companhia da amiga, a quem devolveu a boneca.
A mãe dela
abaixou-se à altura da menina em uma contenção assustada, acariciando a Barbie
como num afeto à filha.
As duas
crianças se olharam. E havia perguntas e tristeza nesse olhar.
As duas mães
se despediram com um sorriso. E havia tensão e julgamentos nesse sorrir.
Enquanto a
cena acontecia, um sutil borrão ganhava forma, manchando a pureza daquele
desenho da infância.
Adorei esse texto, heim? me lembrei da música "eu fico com a pureza da resposta das crianças". Parabéns.
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