Via-crúcis
Caminhava apressadamente, mas se deteve alguns instantes na porta da igreja. Tempo suficiente para de novo sentir-se em dúvida quanto a entrar ou não. Sabia, porém, que precisava entrar. Seria bom, iria lhe fazer bem. Além do mais, que mal poderia alcançá-lo ali? Era uma sexta-feira, pouco depois do horário do almoço, quando as pessoas não tinham tempo de parar porque precisavam voltar ao trabalho. A praça estava cheia de transeuntes, mas a igreja estaria praticamente vazia.
Como não tinha muito tempo, decidiu entrar, e seus passos tornaram-se lentos, como se tomados por um profundo respeito. Tira a sandália dos teus pés, pensou ter ouvido, e apressadamente descalçou os tênis surrados. Seu coração acelerado forçava a cabeça a girar, contemplando a beleza daquele recinto. Teto, paredes, vidraças, santos. Cada detalhe para o qual olhava parecia assegurar-lhe de que aquele era o lugar onde ele deveria estar. Aproximou-se de um genuflexório e reverentemente se ajoelhou. Fronte e mãos abrigadas sobre o peito que agora serenava e se entregava à paz, silenciosamente rezou.
Não se sabe quanto tempo ficou ali. Pela serenidade que sentia, pela paz que reinava em seu coração, devia ter sido a tarde inteira. Mas sabia que havia um caminho que precisava seguir, gostasse ou não e, levantando-se, se benzeu, agradecendo ao Divino, ao mesmo tempo em que lhe pedia perdão.
Se possível, passa de mim este cálice, lembrou-se. Mas sabia que não era. Ali dentro, nenhum mal poderia alcançá-lo.
Mas, à porta do templo, três policiais o aguardavam.
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