
Um
Eram dois, sempre o foram; porém feitos para serem um. Não sabiam disso, no entanto. Então, seguiam como dois, distintos e irreconhecíveis.
Um dia, numa dessas esquinas que a vida, faceira e inquieta, insiste em colocar à nossa frente, encontraram-se.
E eis que o mistério da unicidade se concretizou, envolvendo-os numa assustadora percepção que instantaneamente os acometeu: eram incompletos, existentes pela metade, e tudo o que os tornaria plenos estava bem ali, naquele outro incompleto à sua frente, espelho par que o mirava.
Deram-se as mãos e miraram-se profundamente. Os dois corações ritmados e completos. As duas mentes plenas, finalmente. Respiração e emoção, alegria e pensamento, sorrisos, vida, expectativas, tudo fundido num só. Estavam, enfim, prontos para se tornarem aquilo para o que foram criados: um. Apenas um.