domingo, 12 de janeiro de 2014

Chicles

          Sonhei esta noite que mascava chicletes. Vários deles. Tantos que era difícil abrir e fechar a boca. Era uma massa grossa e dura, mas dulcíssima, que se multiplicava magicamente em minha boca e me forçava a mastigar, mastigar e mastigar. No sonho, eu fechava os olhos para que aquele sacrifício fosse amenizado e então percebia que tamanho esforço era acompanhado de um profundo prazer. Profundo e doce prazer. Era bom mastigar aquela massa gostosa e sentir, sem nojo algum, gotículas provenientes daquela masca a me saltar da boca e lambuzar timidamente o rosto, o pescoço, as mãos... Meus pelos se eriçavam pelo corpo, a massa sendo amaciada em minha boca, saliva doce me envolvendo a pele.
          A doçura e o prazer se misturaram tanto que me dei conta de que sentia medo. Medo de ser envolvida por aquela massa de chicletes que, a despeito da mastigação, pouco amaciava. Imaginei o horror que seria se eu fizesse uma bola, imensa bola que certamente me engoliria.
Abri os olhos, em sobressalto, acordando daquele sonho-pesadelo. Percebi que tinha babado e limpei a baba na fronha do travesseiro. Peguei o celular na mesinha de cabeceira e digitei “significado de sonhar com chiclete”.
          Situação que tem sido adiada, mas precisa ser resolvida. Momento difícil do qual se deseja ver livre. Indício de indecisão, postergação. Ausência de capacidade de se expressar oralmente de forma correta. Fraqueza, vulnerabilidade, incapacidade. Não se deve confiar em novas amizades. Melhor jogar na vaca. Ou se livrar dos problemas.
          Desejei a bola de chiclete que me engolisse. Tornei a fechar os olhos, e ela foi surgindo, primeiro eu a fazia, depois ela se fazia em torno de mim. Crescia ao ponto de me envolver. Agora era eu dentro de uma imensa bola de chicles, com cheirinho de tutti frutti e sabor de quero mais. Lugar de silêncio e paz. Respiro lentamente, útero cor de rosa, respiro lentamente e me ponho a sorrir. Aqui é belo e leve. E me faz deletar a pesquisa do Google, o amargo do ser, a vida real.

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